Digitar é um saco!

Sempre gostei muito de escrever. Mas acho que gostava mais quando escrevia num caderno, com uma caneta velha, histórias que iam surgindo na minha cabeça tresloucada. Com a modernização e essa moda de escrever digitando confesso que brochei um pouco. Se eu pudesse voltaria a escrever a mão e pagaria alguém só para digitar pra mim – entretanto, duvido que ele entendesse minha letra ou conseguisse fazer o trabalho sem esconjurar até a minha quinta geração pela caligrafia horrível. A minha letra é feia setenta por cento por causa do meu pensamento - que, sem modéstia, é mais rápido que a luz – e os outros trinta por puro desleixo. Acho muito charmoso quem escreve feio. Pra ser sincera, tenho impaciência com as secretárias dos consultórios com aquelas letrinhas redondinhas, todas desenhadinhas e que ainda por cima escrevem meu Sousa com zê, mesmo eu frisando que é com ésse. Da vontade de dizer pra elas “De que adianta uma letrinha tão bonitinha se é surda?!” Bacana mesmo são os médicos que ficam lá dentro e fazem qualquer rabisco parecer letra. Pena terem implicado com eles e os forçado a escrever a receita no computador e imprimir, pra evitar que os clientes tomassem ‘crocodilo’ no lugar de ‘cocô de grilo’. Aposto que os médicos partilham da minha opinião de que a tecnologia tirou a graça da escrita. Aposto que prescrever uma receita já foi muito mais emocionante do que é atualmente. A propósito, ir ao médico em tempos passados era algo extraordinário, mas isso é assunto pra outra crônica. Terminemos essa primeiro.

Tenho muita saudade do tempo em que eu tinha um caderninho de redação. Era prazeroso escrever ali. No final do ano poder mostrá-lo para alguém e essa pessoa dizer “a que eu mais gostei foi essa ou aquela” e trocaríamos idéias sobre livros, textos e autores e tudo seria lindo. Mas me diga você, o que acontece hoje? Com essa ejaculação de produções textuais que a tecnologia nos proporciona, milhares de textos são atirados contra nós a todo o momento. Escrever perdeu a graça! Ninguém escreve bem hoje em dia! Somos todos medíocres – quero dizer, medianos! Não me surpreende saber que poucas pessoas consigam sobreviver decentemente só com o exercício da profissão de escritor. Até imagino em outros tempos, José de Alencar seria cafetão nas horas vagas, Manuel Bandeira malabarista no semáforo, Paulo Coelho professor de idiomas (já que os livros deles só andam perdendo pra Bíblia nas traduções) e Luis Fernando Veríssimo comediante stand uper.

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