A menina do aparelho

Sou fotógrafa. O quê? Você não sabia, amigo leitor? A bem da verdade, há tempos que não nos falamos com periodicidade, certo? Perdoe-me a minha falha. Sim, amigo, estou me aventurando pelo mundo da fotografia e com ela, o mundo dos eventos. Casamentos, aniversários, formaturas... essas trivialidades únicas (trivial para quem trabalha nelas, únicas para quem as vivencia).

Mas meu rompante de escrever se deu agora, em que eu editava as fotos da festa de sábado passado. Vi a foto de uma adolescente de sorriso contido. Sabe aquele sorriso de boca fechada? Típico dos usuários de aparelhos ortodônticos? Pois é. Um sorriso contido é um pássaro que morre um pouco por dia dentro de uma gaiola. 

Durante a festa passei na mesa em que a moça estava sentada e pedi para tirar uma foto dela com a mãe. Como precavida fotógrafa que sou, tirei duas fotos seguidas (afim de evitar piscadelas). Em ambas ela sorriu sem mostrar os dentes. Detalhe: ela tem a boca grande, com lábios grossos. Não ficou legal. Agradeci e fui saindo, entretanto, não pude me conter e perguntei se ela usava aparelho. Ela afirmou. E me permiti um pouco mais de intimidade: "Você deveria sorrir de boca aberta. O aparelho faz parte dessa fase da sua vida e não adianta querer negar isso." A mãe dela concordou comigo. Virei as costas e fui fotografar outra mesa. 
Ao terminar as fotos e gracejos da mesa, a moça do aparelho me chama: "Moça, tira outra foto minha? Mudei de ideia. Vou sorrir." Fiquei muito feliz. Primeiro, por ela ter se permitido mudar de posicionamento. Segundo, por se lançar ao novo para ver como ficaria. E, por fim, por reconhecer que aquele é o MOMENTO dela, com aparelho. Você sorri e a vida sorri de volta.

Agora, estava justamente olhando as fotos da recepção, bem no início da festa, e ela não sorriu de boca aberta... A menina que registrei na entrada, certamente não é a mesma que saiu de lá.

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