Coisas de mãe, parte III

Muitas vezes ficamos dias e dias tentando descobrir a razão de certas coisas. Encontrar respostas. Questionamos Deus e o Mundo. Mas, de repente, não mais que de repente a verdade nos é revelada. Tenho de confessar a vocês que não sou esse poço de virtude quanto à maternidade que pareço ser. Tenho defeitos, como toda mãe. Entretanto, na maioria das vezes faço o melhor que posso.

Onde eu quero chegar com isso?

Por mais de três anos eu tenho me martirizado dizendo "por que aconteceu isso justamente comigo?", "por que eu tenho de criar essa criança sozinha, sendo que não a fiz sozinha?", "por que eu não coloquei aquela bendita camisinha, Deus? A minha vida estaria tão diferente hoje...".
E ontem à noite veio-me a grande revelação. A resposta para essas e outras tantas perguntas que sempre me fiz desde que engravidei veio quando meu filho proferiu três palavrinhas: Pêdo ama voxê.

E ele não disse isso em troca de nada! Estávamos assistindo a um filme juntos na cama, de repente ele se virou para mim e disse que me amava. Terminamos de assistir ao filme, ele dormiu e eu ainda fiquei alguns instantes pensando naquilo. E conclui que meu filho veio para dar sentido a minha vida. Sim, ela estaria muito diferente do que é hoje. Eu teria mais liberdade, mais dinheiro, menos comprometimento com horários, poderia fazer tudo que eu quisesse sem ter de dar satisfações a alguém ou pensar que tenho um filho para criar. Mas e daí?

Meu filho preenche meus dias. O crescimento e o aprendizado dele são para mim dádivas que recebo a todo instante. E se Deus quis que eu o criasse sozinha, certamente há um propósito aí que ainda me será revelado.

Eu sou amada!

Isso não é maravilhoso? Além da minha mãe, há outra pessoa que me ama! Talvez você possa dizer que uma criança não tem exata ideia do que é o amor. Nem alguns adultos tem! Mas o carinho dele quando está junto a mim e o enlaçamento que temos entre nós é tão lindo, tão cúmplice, que quero sim acreditar que ele me ame. Ao menos, ele me disse isso! E o Pedro Paulo tem sim noção do que é amar. Acreditem! Quando ele está bravo comigo, diz: Pêdo num vai amar mamãe mais não!

Tenho deixado de fazer muitas coisas que gosto em prol da criação do meu filho. Isso, às vezes, me revolta e frustra um bocado. Contudo, nesses momentos procuro substituir esses sentimentos pelas seguintes imagens e falas:
-Maaaaaamããããeee, voxê chegou!! Péga o Pêdo! Vamu ouvi música no carro seu? - E ele já está na porta do carro antes mesmo de eu descer dele, quando chego do trabalho.
-Mamãe, vamu brincar Pêdo lá fora? Só um poquim! Gorinha a gente volta. - E faz aquele sinal de pouquinho com os dedinhos.
-Pêdo vai fazê papá gostoso pra mamãe e voxê vai papar tudim. Fica aí. Pêdo vai pegá o papá. Hummm...
-Maa-mãee, dexa Pêdo mimi cantim seu?

Para quem não tem filhos, isso tudo pode soar tão sem graça quanto um jogo de bocha. Entretanto, me comove profundamente. São sensações que eu não tenho com o que comparar. Não sei descrever o sentimento. Só sei sentí-lo.

Comentários

  1. Eu não tenho filhos e isso não soa nem um pouco sem graça! Que massa, Aninha! =)

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  2. Que lindo! Sabe, eu acho é que sentimentos que crianças demonstram são ainda mais cheios de "noção" do que os nossos, justamente porque não são poluídos por nada. Uma vez vc listou para mim várias coisas que vc tinha deixado de lado pelo Pedro, e outras várias que compensavam bem isso. Naquele dia eu senti dúvida em vc, nesse texto não mais. =)

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  3. adoorei . :) texto liindo . deu vontade de ser mãe agora :) kk'

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