Coisas de mãe

Não é a primeira vez que recorro aos Poupançudos nesse blog. São criaturinhas feias e desengonçadas, mas que caíram no gosto das crianças (e também de alguns adultos). E eu, na função de caixa, sinto-me como alguém que possibilita às pessoas terem um desses monstrinhos marketeiros. A cada depósito de R$ 200,00 por dia, ganha-se um. É minha obrigação também ajudar a "fiscalizar" para que os brindezinhos horrendos não sejam todos levados de uma vez.
-Quero fazer cinco depósitos de R$ 200, 00 nessa conta.
-É pra ganhar Poupançudo, senhor?
-É.
-Não pode.
-Não pode, por quê?
-Porque são as regras da promoção, senhor. Eu não posso permitir que o senhor leve cinco Poupançudos de uma vez. Com isso estaríamos deixando de prestigiar outros quatro clientes, por exemplo.
Mas confesso que eu mesma já quebrei a regra uma vez. Era uma senhora simples, que falou comigo em tom humilde a seguinte conversa:
-Moça, meu filho tá colecionando os Poupançudos e só falta um. Só que eu não tenho mais dinheiro pra depositar. Eu queria que você sacasse R$ 200,00 da conta e depositasse de novo, só pra eu pegar o bichinho pra ele.
Em raros momentos me coloco do outro lado do balcão. Entretanto, eu sou mãe e naquele instante me senti na pele daquela mulher e sei que faria exatamente a mesma coisa. Afinal, o máximo que ela poderia ganhar seria um não da atendente. Mas eu disse sim. Fiz conforme ela me pediu, atendi mais um cliente e saí para o almoço.
Lá fora, a cena me tocou muito. Um menino de uns seis anos, vestido com a camiseta do Corinthians (tenho muita simpatia por corinthianos), pulava de alegria com um o Jijo na mão.
-Iiihuuu!! Eu tenho a coleção completa dos Poupançuuudooos!! Eba! ninguém mais na sala conseguiu completar, mãe! Nós conseguimos! Iiihuuu!!
A mãe dele não me viu passando, mas eu os vi e vi a alegria que eu pude proporcionar àquele garoto naquele dia. E era tudo verdadeiro! A humildade que ela se referiu a mim, a circunstância que a envolvia, o desejo do menino de completar a coleção.

Meu filho é louco por patrols, retroescavadeiras, tratores... todas essas máquinas pesadas, incluindo caminhões. Às vezes, saio com ele de carro só para que ele veja as máquinas. Passo diante das construções e paramos para ficar observando os homens trabalharem. Olha só! Há três anos nunca me imaginaria parada diante de uma obra, olhando homens de macacão azul operarem retroescavadeiras e caminhões descarregando terra. Maternidade é isso. É se doar. É alegrar-se com a alegria do filho.

Comentários

  1. Boa tarde/noite, dona Rosa.
    Acredita-me se eu disser que cheguei em casa e logo corri pra acompanhar as postagens que ainda me faltam do blogue da senhorita?

    Esta, particularmente, eu gostei um bom bocado! Se a atitude arrancou alegria da criança, compartilhar o texto arranca sorriso de quem lê. Fora que esse negócio de ajudar o próximo pode até fazer do mundo um lugar melhor pra se viver!!

    Abraços,
    ex-c068058-4

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